Mulher

Tem alguns dias que não escrevo nada.E esses tem sido dias estranhos em que faço tudo pela metade.
Mas hoje acordei com o firme propósito de ao menos atualizar esse blog que se soubesse que me renderia tantas cobranças decididamente nem teria começado.Ou publicado, melhor dizendo.Porque escrever rascunhos foi o que fiz a vida inteira, mesmo antes de escrever as canções que hoje me perseguem.Nessa época do ano fico pouco em casa e minha rotina se resume a uns breves estados de consciencia entre aeroportos, hoteis, onibus e os palcos dos maiores Rodeios de meu País.Gosto do que faço, sobretudo quando vejo milhares de pessoas na minha frente cantando as canções que falam dos meus erros e acertos em busca de alguem ideal.Estranho partilhar isso, expor essa feridas.Me sinto nú e até meio ridículo.Mas a idéia de saber que quem me inspirou escuta a minha verdade através das canções me agrada.Chega a ser como uma doce vingança, como quem diz ao seu algoz "voce nao conseguiu, eu sobrevivi."
Gosto de imaginar ela inventando pro outro uma desculpa pelo olhar distante quando o vento traz coisas como "saudade da estrela que um dia eu segui"...
Nunca escrevi nada que não fosse verdadeiro.E sei da reciprocidade disso.Não tenho a pretensão de ser eterno no coração de uma mulher mas as canções, assim como os diamantes, são para sempre.E para a musa isso as vezes vira um castigo, sobretudo se os versos se tornam musicas conhecidas.E eu torço pelos dois.Pelo castigo e pelos direitos autorais, afinal eu sou poeta mas também preciso de um ganha-pão.
Pra certas coisas sou ortodoxo.Falar de amor é uma delas.E faço mesmo o tipo "tremendão" das serenatas, longas cartas de amor escritas a mão, as flores, os vinhos e os cuidados de um homem respeitoso e apaixonado pela sua amante amada.Eterna namorada.Como diria Salomão em seu Cantares "aquela que lhe roubou o coração com um só dos seus olhares."
(Preciso tomar nota dessa, ficaria bem em um cartão com uma orquídea num vasinho de prata.)

Por falar em olhares, o que não nos provoca um simples olhar de uma mulher ?Quantas voltas damos em um quarteirão apenas para nos deixar fisgar por um par de olhos errantes e errados em uma esquina qualquer ?Sem coragem de parar e começar uma estória, apenas a alma do guerreiro ancestral reclamando seu instinto de caçador.
E quando elas saem do banho ?Uma mulher quando sai do banho é quase um milagre, enrolando a toalha no alto da cabeça pra vestir a lingerie.Sim, elas nunca ficam muito tempo sem por a lingerie.O homem matreiro não se opõe, vê isso como um eterno convite à delícia de fantasiar o desnude, antecipar o requinte no uso de seu direito de macular o que é sagrado, o que é seu.Aquela penugem que elas tem na nuca.A dobrinha da barriga da perna, atrás do joelho ! Meus Deus, tem um perfuminho ali que, eu juro, é diferente em cada mulher.Acredite !
Como são anjos quando dormem e fascinantes quando se levantam da cama.Amo admirar a sillueta de uma mulher no quarto escuro, no meio da noite; a leveza com que se movem e o beijinho carinhoso que dão em nosso peito antes de usa-lo como travesseiro.Dormem como anjos, embaladas pelo vai e vem da caixa toráxica peluda e do sonoro ressonar do guerreiro extenuado pelos embates amorosos.

Minha editora sempre me manda pro mesmo flat quando estou em São Paulo a negócios.No Jardins, cheio de lojas de grife, bons restaurantes.As vezes a internet no quarto para de funcionar e como bom viciado desço e fico no saguão usando o Wi-Fi do looby.Acabei fazendo amizade com o pessoal da noite e eventualmente eliminando um vírus ou otimizando os computadores do hotel.Faço isso sem compromisso, os caras são brothers e eu tenho regalias em troca disso.Numa dessas madrugadas eu tava sozinho na recepção quando sai do elevador uma cliente nada comum, Paloma Duarte.Não teria sido nada demais a não ser o fato dela se aproximar do balcão e me olhar com aqueles olhos de mil estrelas, o sorriso aberto, tirando de mim a própria identidade.Falou com uma voz tão doce que faria o próprio Salomão esquecer o jaburú que tinha em casa :"-Boa noite, meu marido Oswaldo vai chegar de Curitiba, por favor entregue para ele a chave de minha suíte.E prepare um lanchinho leve que ele pode estar com fome, coitado."
Eu balbuciei um "Sim Senhora" quase inaudível e fiquei contemplando o vai e vem generoso de suas passadas em direção ao carro preto que encostava.
Tenho dela a melhor das impressões nem tanto por se tratar de uma linda e talentosa atriz mas sim pelo cuidado materno com que mostrou cuidar de seu homem."meu marido Oswaldo"...Hoje quando vejo o Oswaldo Montenegro cantando e tocando bonito na televisão não sinto a menor inveja.
Com uma mulher dessas negrão, até eu !

"A mulher é um ser sagrado."