Ela

“Acenderam as luzes da arena, já vai começar”..as pessoas vibram com a apresentação de um dos maiores concertos de musica Country da America Latina.Som e luzes em um cenário moderno, efeitos de pirotecnia e telões de leds com imagens pré-gravadas e em real time.Uma banda entrosada e alinhada com a energia dos artistas, os inimitáveis Rionegro e Solimões.

Ouço pelo meu in ear a contagem do metrônomo.Um tempo vazio e entro com a guitarra na cabeça do tempo dois.Perfeito.O solo segue com mãos que conhecem o caminho.A memória não me trai e a sequencia de notas flui naturalmente.Rionegro encosta em mim com seu violão Blues King e faz o seu som enquanto Solimões dança do outro lado do palco.A banda é um só groove pesado e harmonioso; um conjunto de elementos musicais ordenados e dinâmicos.Um equilíbrio perfeito, devidamente equalizado e pré-amplificado.Cerca de 30 mil pessoas acompanham atentos cada detalhe da apresentação do show que recebe o troféu Arena de ouro do circuito nacional de rodeio a mais de 5 anos.
Termino o solo e subo na passarela pra me posicionar pra câmera 2 e fazer os acordes que o técnico de imagens coloca no telão direito.

O sistema in ear Shure em meus ouvidos afasta qualquer ambiencia e a contagem do metronômo é como a torre de controle autorizando minha decolagem.Troco o efeito da pedalboard e caminho em direção ao centro do palco com minha Fender Telecaster 52 Vintage Series.Entro com o solo, sinto nos ouvidos o impacto do drive e percorro com os dedos a escala do braço de meu instrumento.Ligo o piloto automático e relaxo.A musica começou.E procuro os olhos dela.E os encontro como se também estivessem a minha espera, a minha procura. E ela sorri.E eu guardo aquele momento em um lugar dentro de mim, entre as minhas coisas mais sagradas.E assumo que entre nós há muito dessa coisa de pele.E penso sem surpresa que não houve momento sem um procurar e encontrar no outro a calma e o cuidado de um olhar rendido, encantado.Não houve um passo então que não fosse de mãos dadas, um beijo que não fosse doce, um abraço que não nos unisse e uma única frase que não fosse bebida pelo outro pra matar a sede amante.A fome de conhecer a estória e as escolhas que pavimentaram dois caminhos que agora se cruzam e se tornam um e no mesmo sentido.

E quando acaba o show e as cortinas do palco são fechadas, minhas guitarras guardadas, minha tensão relaxada, é você quem vejo primeiro.E é tua boca que beijo e no teu abraço onde encontro a calma de quem nada tem a perder porque tudo de que preciso para viver é do teu sangue nas minhas veias, teu cheiro em meus pulmões, teu nome tatuado na minha pele e tua imagem na mente e no coração.E ouço teu riso e tuas estórias.E não vejo o olhar surpreso das pessoas que ainda não entenderam.E descendo do palco abraçados nos misturamos a multidão e passeamos entre as barracas de coisas baratas.E somos um casal comum.E você chega bem junto a mim e encosta a cabeça no meu ombro.E se sabe segura, amada, porque um dia lhe disseram que um homem só protege o que lhe chega ao coração, que agora é o teu lugar em mim.E como duas crianças entramos naquele baile rindo e falando alto segredos no ouvido do outro.E dançamos grudados, doces beijos com tuas mãos segurando meu rosto e meus braços te prendendo como teu dono...prá nunca te deixar ir embora.

E vejo que não sou mais o guitarrista e você não é mais a modelo capa de revista.
Sou o bóia fria que levou a faxineira no baile.
E pediu ela em namoro.
E ela disse sim.

E viveram felizes para sempre...