segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Adriana Stefens

Recebi um comentário de uma leitora em uma de minhas postagens que me incomodou mais pela franqueza constrangedora do que a falta de compreensão do texto e da arte em si :

"Me peocupa um homem previlegiado pela vida como você pensar tanto no material e deixar o espiritual pra depois...muito depois.Talvez seje um breve momento nostálgico, mas vc nunca está sozinho, existem pessoas que você nem imagina que te admiram e se encantam por você!!!Pense nisso!!Um abraço fraterno!!" ( texto Sem Respirar em 04/10/2008 )

Minha amiga e acadêmica conceituada Adriana Stefens, a quem devo meu maior respeito e admiração pela inteligência, competência profissional e sensibilidade na alma, responde por mim :


O texto "Sem Respirar" parece utilizar como recurso narrativo o fluxo de consciência, no qual misturam-se passado e presente; percepções, reflexões realidade;culpa e prazer; amor e piedade; razão e emoção, enfim, sentimentos e sensações paradoxais as quais buscam refletir sobre a condição do homem moderno. A ausência de pontuação marca a intensidade,a correria e falta de parada do homem moderno: aquele que corre, luta, consome e pouco usufrui.A estrutura do texto, sem pontos coincide com o próprio título: Sem respirar. Pelo que parece o texto dá forma a tomada de consciência do autor, que demosntra tomar ciência de sua existência e das condições em que submete-se para atender as necessidades do sistema. Num momento ele caracteriza-se: "sou indecente e individualista e um tanto quanto centralizador e capitalista e segundo alguns um mercenário frio e calculista", ele diz que precisa de reconhecimento, demonstra sua vulnerabilidade em relação aos padrões capitalistas, entretanto, mais tarde, toma consciência de uma verdade, social e existencial do individuo moderno, com suas fobias e depressões, acostumado com a tecnologia, a era da informação, o individuo que consome e que não habita o lar. Ortega Y Gasset diz que "viver no instantaneo desestrutura a vida" e que é no cotidiano, que etmologicamente significa dia a dia, que encontramos segurança para suportarmos as mazelas da vida. O que autor nos coloca, é antes de tudo, a realidade de qualquer um de nós: o homem modeno, sofremos as mesma pressões, as mesma angústias e a mesma solidão, entretanto, o "homem comum" não tem consciência de sua alienação. A modernidade acarreta maleficios a nossa condição de ser.Percebemos, no texto de Toninho Mesquita, que o homem perde algumas de sua caracteristicas humanas, "e nascem presas no lugar dos dentes e crescem pêlos e garras e perco a voz e saio grunhindo", ou seja,estamos diante de um homem metamorfoseado, que perde sua condição de ser SER.Não a toa, Marx diz que "Tudo que é sólido desmancha no ar". O que o mundo pode nos oferecer são coisas sólidas, bens materiais, prazeres efêmeros, por isso, apesar de tanto, continuamos vazios, falta ao homem moderno coisas "não sólidas" subjetivas e sensitivas. Apesar de tanta correria, de nem conseguir respirar, no momento de crise existencial, o autor reza as oraçãoes que conhece, que provavelmente não comprou, nem conquistou pelo reconhecimento, mas que devem ter sido "dadas", quem sabe na infância, numa outra época, num outro mundo, com outros valores, por alguém com outro tipo de amor: uma pessoa que ensinou, sem esperar nada em troca! Rezar "orações conhecidas" é uma forma de estar em contato consigo mesmo, com suas origens, com o sagrado. Muito interessante, concluirmos, que, como diz Drummond "de tudo fica um pouco", mas, o que mais fica é aquilo que nos é dado pelo amor incondicional e que não pode ser comprado.Se pudessemos comprar, em qualquer época da vida, "um amor de mãe"; "um carinho de irmão"; "uma proteção de pai"; "um mimo de tio", seríamos muito felizes, mas isso é impossível, precisamos gozar deles enquanto temos, pois depois só fica o vazio, ou a lembrança da oração ensinada.Muito difícil falar sobre o que outro escreve, muito difícil mesmo. Levantar hipóteses sobre o que o texto diz, é o que tentamos fazer. Pensar de que forma a experiência individual do autor retrata aspectos universais. Sempre digo, especulações... nada mais que especulaçoes!!!

Adriana Stefens

3 comentários:

Jane Loseli disse...

Muito interessante a interpretação do texto! é realmente para ler e ficar analisando...

Toninho Mesquita disse...

hoje tirei pra ler algumas coisas enquanto o sono não chega...não é por nada não mas a análise ( é com s ou z, deu branco ) da Adriana é melhor do que meu proprio post...rs


tm

Anônimo disse...

adoro td ke escreve beijjos!